sexta-feira, 3 de abril de 2015

Semana Santa

A Semana Santa é um tema bastante discutido e por vezes contraditório na visão Umbandista.

Muitos alegam não reverenciar a data por se tratar de um dogma do catolicismo, e outros irmãos da nossa amada Umbanda reverenciam a data. Minha intenção não é julgar quem está certo ou errado, e sim colocar o tema para reflexão.

A Umbanda é uma religião que contém em seus dogmas e rituais a origem cristã, origem católica, origem africana, origem indígena, origem espírita (kardecista), origem espiritual, e origem mítica.

Por ser uma religião cristã, acreditamos nos ensinamentos de Jesus Cristo, mas isso não quer dizer que esses ensinamentos são apenas pelo ponto de vista católico. Vamos deixar bem claro que a passagem e os acontecimentos de Jesus em nosso meio antecede e independe de qualquer religião cristã.


Pelo contexto histórico, a Páscoa, primeiramente, não é, de maneira inicial, relacionada ao martírio e sacrifício de Jesus, pois na própria Bíblia existem referências de Jesus comemorando a Páscoa.

A Páscoa era uma festa cultural e, portanto, o que fez a Igreja foi “aproveitar-se” do sentido da festa, para adaptá-la, dando-lhe um novo significado, associando-o à “imolação” de Jesus, no pós-julgamento, na execução da sentença de Pilatos. Historicamente, a Páscoa é a junção de duas festividades muito antigas, comuns entre os povos primitivos, e alimentada pelos judeus, à época de Jesus. Fala-se do “pesah”, uma dança cultural, representando a vida dos povos nômades, numa fase em que a vinculação à terra (com a noção de propriedade) ainda não era flagrante. Também estava associada à “festa dos ázimos”, uma homenagem que os agricultores sedentários faziam às divindades, em razão do início da época da colheita do trigo, agradecendo aos Céus, pela fartura da produção agrícola, da qual saciavam a fome de suas famílias, e propiciavam as trocas nos mercados da época. Ambas eram comemoradas no mês de abril (nisan) e, a partir do evento bíblico denominado “êxodo” (fuga do povo hebreu do Egito), em torno de 1441 a.C., passaram a ser reverenciadas juntas. É esta a Páscoa que o Cristo comemorou junto dos seus mais caros, por ocasião da última ceia.

Logo após a celebração, foram todos para o Getsêmani, onde os discípulos invigilantes adormeceram, tendo sido o palco do beijo da traição e da prisão do Nazareno.


Pelo ponto de vista espírita (kardecista) a Semana Santa é respeitada, mas não é reverenciada, os kardecistas afinam-se na proposta do Cristo vivo, reverenciando os Seus exemplos, inclusive o da imortalidade.


Pela origem africana, existe uma tradição que é adotada principalmente nos Terreiros com maior influência no Candomblé, esta tradição explica que os povos religiosos da África, todas as instâncias da vida são sagradas, inclusive a guerra. É comum para muitos povos que, em tempos de paz, sejam realizados rituais (cantos, danças, beberagens, festins) de guerra. Na teologia desses povos não são apenas as pessoas que vão para a guerra, mas também suas divindades, os Orixás, e é aí que surge esse rito chamado de Lórògun (Rito de Guerra, em iorubá), ou como chamamos aqui “Mandar os Santos (ou Orixás) para a Guerra”.

Esse ritual consiste em três partes: a ida dos Orixás à guerra, o período de abstinência e o retorno dos Orixás. Na primeira parte, realizada à noite, os Orixás guerreiros se manifestam em seus “cavalos” durante um pequeno orô (rito). Após, o quarto-de-santo ficará fechado. Inicia-se então a segunda parte onde devemos nos abster de bebidas alcoólicas ou revitalizantes, carnes, sexo (diz-se que um filho concebido neste período poderia nascer com espírito brigão), qualquer coisa que nos agite, pois podem se transformar em brigas com consequências trágicas. Simbolicamente, este período de abstinência serve para nos lembrar dos períodos de guerra onde a comida é escassa e os nervos estão à flor da pele. A terceira parte é o retorno dos Orixás para casa, ritual realizado na parte da manhã, é uma grande festa de recepção onde todos os Orixás se manifestam. O sentimento é de alegria pelo Seu retorno, o que também simboliza o retorno a normalidade.

Na transposição dessa cultura ao Brasil, na época da escravidão, todos os rituais africanos tiveram que ser adaptados ao calendário católico. Assim, esse ritual africano é realizado na semana santa, com a primeira etapa na quarta-feira, a segunda na quinta e sexta-feira, e a terceira no sábado pela manhã.
Por causa da adaptação ao calendário litúrgico católico, muitas pessoas que desconhecem a história e os propósitos desse ritual, usaram a ideologia cristã para explicá-lo, mas como podemos ver esse ritual é tipicamente africano.

Enfim, devemos encarar a Páscoa como momento de transformação, momento da vida de Jesus que marcou e é lembrado a mais de 2 mil anos, e devemos sempre lembrar dos ensinamentos de amor ao próximo deixado por nosso mestre.

Feliz Páscoa, Axé!


Fontes: orumilaia.blogspot.com e aeradoespirito.net



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